“Now we must learn to judge
a society more by its sounds, by its art, and by its festivals, than by its
statistics. By listening to noise, we can better understand where the folly of
men and their calculations is leading us…”
A
conceptualização de paisagem sonora formulada por Murray Schafer, continua a
fazer cada vez mais sentido, ainda que tenham passado vinte e seis anos desde a
publicação da versão original da obra The Thinking Ear. Durante mais de duas décadas foram constatados vários avanços
propiciados pela revolução tecnológica, e a densidade das sonoridades urbanas
acompanhou esse processo com a inegável intensificação do ruído envolvente. Mas
se o aumento das sonoridades urbanas pode ser efectivamente comprovado, também
o estado de constante “hipnose” dominante na sociedade, prova que esta não
reage ao ruído, por já não saber viver sem ele. O silêncio emerge, neste
contexto, como um tipo de som difícil de encontrar e de suportar. O mesmo
acontece com o sussurro: “ninguém sussurra no centro da cidade.” (Schafer,1992: 233).
A
psicologia do sussurro, tal como é evidenciada por Murray Schafer,
caracteriza-o como informação privilegiada. O encantamento que circunda este
tipo de som faz-me pensar na sua consequente adaptação ao jornalismo radiofónico.
Da mesma forma que a incorporação do sussurro no início de uma obra pode
despertar o interesse por parte do público, será que também a sua inclusão, na
transmissão de uma qualquer mensagem radiofónica, pode captar melhor o ouvinte?
Para a psicologia do sussurro a resposta parece ser irrevogavelmente
afirmativa, mas em termos fisiológicos a intimidade natural deste tipo de som
torna-o simultaneamente “escorregadio”, pela “falta de ressonância produzida
pela vibração das cordas vocais.” (Schafer, 1992: 233).
Ainda
que a aplicabilidade do sussurro a uma área como o jornalismo radiofónico seja
questionável, a sua inexistência, no quotidiano daqueles que vivem nas grandes
cidades, é facilmente perceptível, quando analisada num ambiente em que o
barulho é constante e claramente convertido em ameaça. A poluição sonora nas
sociedades industrializadas surge, assim, como um dos problemas da
contemporaneidade, cuja intensidade aumenta continuamente, a par de “evidências
recentes”, que mostram que o ser humano está a ficar “gradualmente surdo.”[1]
(Schafer, 1992: 288). Uma surdez que ainda é parcial, mas que reflecte o
ambiente sonoro de uma sociedade consumida pelo som, e na qual nada acontece na
sua ausência.
[1] “Se ficarmos todos surdos,
simplesmente não haverá mais música. Uma das definições de ruído é que ele é o
som que aprendemos a ignorar. E como nós o temos ignorado por tanto tempo, ele
agora foge completamente ao nosso controle.” (Schafer, 1992: 289).